quinta-feira, 30 de setembro de 2010

"Amar é ter um pássaro pousado no dedo"

Eu amo tudo o que foi, tudo o que já não é, a dor que já não me dói, o ontem que a dor deixou, o que deixou alegria, só porque foi, e voou, e hoje é já outro dia. E nesse novo dia, que marca o desfecho de mais um ano de namoro, sinto que já somos outros, não vivemos mais as belezas, os encantos, nem as dores e os sofrimentos de antes. Experimentamos novos sentimentos. A cada tempo morre o amor antigo para dar lugar ao florescimento de um novo amor. Então, passamos a compartilhar novas vivências, novas incertezas e, principalmente, novas esperanças. E tudo isso significa que estamos vivos, pois tudo quanto vive muda, refaz-se, recria-se.

Quanto ao que fora vivido, torna-se símbolo de saudade que nós interiorizamos antropofagicamente - como na ceia - quando percebemos o que de você há em mim e o que de mim existe em você. Símbolos sagrados e verdadeiros rituais celebram nossa história: os cheiros, os lugares, as roupas, os presentes, as comidas, as bebidas, as cartas e, sobretudo, as declarações - verdadeiras explosões de sentimentos e desejos em palavras. São todas partes de nós, ajudaram a construir o nosso ser e, independente do que esteja por vir, jamais serão esquecidos.

Agora, descortinam-se diante de nós novos momentos, novos desafios e novas dúvidas. E este novo relacionamento traz consigo suas próprias delícias e prazeres, como também suas preocupações e desventuras.

Porém, o nosso encontro prolonga-se, renova-se, fertilizado pela esperança, filha de uma profunda fé na vida, nos amantes, e no próprio amor!

Obrigado Binha, você me fez e me faz viver tudo isso!

Seu amante.

20/11/2009

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Tudo quanto vive, vive porque muda"

Fui formado numa tradição protestante, na igreja aprendi que deveria ser sempre firme e constante, estar certo das coisas e saber as verdades, pois a palavra do crente é sempre sim, sim e não, não. Deus me foi apresentado como um ser cristalizado, petrificado pelas tantas formulações doutrinárias herdadas dos Pais da Igreja, dos reformadores e da ortodoxia protestante. O longo cozimento da história permitiu que o protestantismo engaiolasse um ídolo, achando que teria enclausurado o único Deus verdadeiro.
Enquanto a eterna novidade do mundo acontecia, eu tentava "morrer para o mundo" e me adaptar aos rígidos e disciplinados hábitos de uma vida puritana.
Porém, a vida sempre teimosa, à revelia dos meus esforços, me levava a caminhar por estradas sinuosas, a andar em pisos disformes e movediços, me apresentava bifurcações e ruas sem saídas, obrigando-me a procurar respostas que os manuais de educação religiosa não previam.
Fui percebendo que com a ação do sol, da chuva e do vento, o traçado deixado pelos ancestrais protestantes ia desaparecendo. O tempo se encarregava de modificar a paisagem e os mapas prontos já não orientavam a caminhada.
De repente meu mundo foi se ampliando, as experiências de trabalho e estudo, as leituras (agora muito mais diversas), as conversas com velhos e novos amigos, começaram a me mostrar que além do certo e verdadeiro existia o belo, o prazeroso, as sensações e sentimentos (protestante histórico não sente, pensa. Sentir é coisa de pentecostal).
Decidi, então, que agora queria ver tudo quanto Deus criara. Senti-me como Pessoa, "renascido a cada momento para a eterna novidade do mundo". Há tanto o que ver, tantas músicas para ouvir, livros para ler, pessoas a conhecer, lugares a visitar. Um absurdo uma vida só para tudo isso. Concordo com Manoel de Barros, deveríamos ter pelo menos duas vidas, uma para ensaiar e outra para viver. Tudo bem, me conformo com uns cem anos...
Como não vou escrever minha vida toda num único post, termino este dizendo que continuo protestante, profundamente religioso. Mas, não preciso mais exaurir todas as dúvidas, nem saber as verdades sobre Deus. Fico satisfeito em repousar nos seus braços, ser alimentado por sua esperança e viver a presença e a promessa do seu Reino com irmãos e irmãs de todos os jeitos e lugares.