terça-feira, 7 de junho de 2011

O que dizer sobre a desigualdade social no Brasil?

Um amigo que estuda Serviço Social me pegou de supetão com estas perguntas e senti que são questões das quais não podemos nos esquivar. Esta aí o que me ocorreu na hora!

1. O que você entende por “Questão Social”

Se tratarmos do tema considerando apenas a sua configuração atual, podemos dizer que a questão social consiste, sobretudo, nas formas, circunstâncias e condições em que se dá ou não o acesso das classes/grupos/pessoas aos bens materiais e imateriais produzidos pelo conjunto da sociedade, dependendo as suas condições de vida diretamente deste acesso. Porém, outro aspecto importante a destacar é a disposição destas classes/grupos/pessoas no seio da sociedade, em termos de força política, participação nos processos decisórios, relações de força mais ou menos equiparadas ou extremamente desiguais, dentre outros fatores de organização social. Lembrando que a questão social não se desprende das questões étnicas, das questões de gênero, e do problema econômico.

2. Qual o motivo de termos hoje tantos problemas sociais e quais são eles? Dê alguns exemplos.

Neste ponto não há como fugir à análise histórica. Nossos problemas sociais são resultantes de um modelo socioeconômico baseado na exploração da natureza e das pessoas em função do acumulo de riquezas. Do capitalismo mercantil ao atual modelo pós-industrial, amparado pelas sociedades neoliberais, a exploração externa de países ricos sobre países pobres e a exploração interna de classes dominantes sobre classes subalternas vem se sofisticando e criando hegemonias para se perpetuar. Todos os problemas sociais podem ser resumidos numa palavra: desumanização, que é expressa desde o problema ecológico, ao trabalho escravo, trabalho infantil, desemprego, subempregos, miséria crônica, pobreza, falta de acesso à educação e saúde de qualidade, falta de segurança, habitação, dentre tantos outros direitos básicos, garantidos pela constituição e até agora ausentes da vida da grande maioria dos brasileiros.

3. O que gera tanta desigualdade no país?

Já comecei a responder esta pergunta. Mas, para ser sintético, digo em uma frase: a absurda concentração de renda! Temos um país rico, estamos figurando entre as 10 maiores economias do mundo e com níveis de desenvolvimento humano comparáveis a países africanos paupérrimos. É preciso distribuição de renda efetiva, pois Fome Zero não basta, embora como medida de urgência surta seus efeitos. É preciso taxar grandes fortunas, diminuir ganhos de bancos e empresas, transferindo parte maior dos resultados da riqueza produzida aos trabalhadores. Precisamos realizar reforma agrária, formar cidadãos, desenvolver a democracia, pluralizar os meios de comunicação, reconhecer os direitos das minorias, dentre tantos outros problemas sociais urgentes que temos.

E vocês o que dizem?

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Filosofia também diverte!

A leitura de Foucault é pra mim sempre uma leitura perturbadora. Sua crítica desmonta preconceitos, estraçalha paradigmas e expõe as fragilidades e os interditos do mais solene conhecimento. Essa passagem da Microfísica do Poder é, sem dúvida, uma das mais arrasadoras:

“O importante, creio, é que a verdade não existe fora do poder ou sem poder (não é não obstante um mito, de que seria necessário esclarecer a história e as funções a recompensa dos espíritos livres, o filho das longas solidões, o privilégio daqueles que souberam se libertar). A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua "política geral" de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro.”

Nossa! Soco no estômago de Platão e de uma tradição inteira que costumamos rotular de “Modernidade”. A verdade, este ente adorado e idolatrado, presente divino a uns poucos extraordinários que de tempos em tempos recebem revelações, nada mais é que uma espécie de erro ainda não contestado e cristalizado pelo longo cozimento da história.

- Aiaiai! E agora Foucault? O que é que eu faço se tudo é inventado? Eu só sigo a verdade, mas cadê ela? Me recuso! Você é um pós-moderno falso tentando destruir a vida das pessoas com a sua filosofia caótica que só traz confusão. Como assim regimes de verdade? Enunciados que funcionam como verdadeiros? E as verdades que venho acreditando durante toda a vida, quer dizer que só são verdades por causa das instituições que as criaram e as defendem e conservam?

- Sei não, li na Bíblia que conhecendo a verdade ela me libertaria. Mas, se eu acredito piamente numa verdade ela acaba me subjugando. Então essa verdade não pode ser verdadeira. Oxe!, quer dizer então que pra Bíblia verdade é aquilo que liberta?!. Mas o que liberta nunca está do lado do poder, e se é o poder que determina o que é a verdade... Então a verdade está mais próxima de uma não-verdade do que de uma verdade? Kkkkkkkkkkkkk!!!

Esqueci de dizer que também me divirto lendo Foucault...