quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Tudo quanto vive, vive porque muda"

Fui formado numa tradição protestante, na igreja aprendi que deveria ser sempre firme e constante, estar certo das coisas e saber as verdades, pois a palavra do crente é sempre sim, sim e não, não. Deus me foi apresentado como um ser cristalizado, petrificado pelas tantas formulações doutrinárias herdadas dos Pais da Igreja, dos reformadores e da ortodoxia protestante. O longo cozimento da história permitiu que o protestantismo engaiolasse um ídolo, achando que teria enclausurado o único Deus verdadeiro.
Enquanto a eterna novidade do mundo acontecia, eu tentava "morrer para o mundo" e me adaptar aos rígidos e disciplinados hábitos de uma vida puritana.
Porém, a vida sempre teimosa, à revelia dos meus esforços, me levava a caminhar por estradas sinuosas, a andar em pisos disformes e movediços, me apresentava bifurcações e ruas sem saídas, obrigando-me a procurar respostas que os manuais de educação religiosa não previam.
Fui percebendo que com a ação do sol, da chuva e do vento, o traçado deixado pelos ancestrais protestantes ia desaparecendo. O tempo se encarregava de modificar a paisagem e os mapas prontos já não orientavam a caminhada.
De repente meu mundo foi se ampliando, as experiências de trabalho e estudo, as leituras (agora muito mais diversas), as conversas com velhos e novos amigos, começaram a me mostrar que além do certo e verdadeiro existia o belo, o prazeroso, as sensações e sentimentos (protestante histórico não sente, pensa. Sentir é coisa de pentecostal).
Decidi, então, que agora queria ver tudo quanto Deus criara. Senti-me como Pessoa, "renascido a cada momento para a eterna novidade do mundo". Há tanto o que ver, tantas músicas para ouvir, livros para ler, pessoas a conhecer, lugares a visitar. Um absurdo uma vida só para tudo isso. Concordo com Manoel de Barros, deveríamos ter pelo menos duas vidas, uma para ensaiar e outra para viver. Tudo bem, me conformo com uns cem anos...
Como não vou escrever minha vida toda num único post, termino este dizendo que continuo protestante, profundamente religioso. Mas, não preciso mais exaurir todas as dúvidas, nem saber as verdades sobre Deus. Fico satisfeito em repousar nos seus braços, ser alimentado por sua esperança e viver a presença e a promessa do seu Reino com irmãos e irmãs de todos os jeitos e lugares.

10 comentários:

  1. parabéns Messias o blog é legal, suas palavras são surpreendentemente condizentes com a verdade, concordo e tb admiro as obras de Deus revelados em coisas tão normais como um dia de chuva ou o por do sol, enfim Deus te abençoe passe nos meus blogs tb

    ResponderExcluir
  2. Oi Mê...gosteiiii...vc sempre com o dom da palavra...tô te seguindoo...acompanhareiii sempree...bjinhus...

    ResponderExcluir
  3. Gennnnnnntee!! Que maaaassaaa!!! Mê de blog!!! Parabéns pra mim!!!! Sim... porque o presente de ler vc sempre é meu!!!! huahuahuahuauah

    Quanto ao blog... Perfeito!! Sua cara... Somos todos grávidos de nós mesmos e estamos sempre nos re-inventando...Os Messias... rsss (adorei!!) Há quem ache desgastante nunca saber quem somos, há quem nos ache interessante... descobrir a cada dia uma nova face do nosso eu!

    Quanto ao post... O Protestantismo tem mesmo essa infeliz mania de nos formatar de um jeito só, mas felizes daqueles que lêem Alberto Caeiro* e querem se libertar dos vários modelos que os aprisionam. Assim chegamos mais próximos do ser único, diferenciado, que somos! Mais perto do EU, mais perto do Pai!

    *"Procuro despir-me do que aprendi
    Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
    E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
    Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
    Desembrulhar-me e ser eu..."


    Um xero Nego!!! Feliz da vida com seu cantinho!!! Que pretendo voltar seeeempre!!!

    ResponderExcluir
  4. Meu amor, está tudo a sua cara....A muito tempo q vc era p ter feito esse blog, p vc não explodir de tanta elucubrações..rsrsrsrsr
    Adorei...e como sempre sou sua admiradora, orgulhosa de fazer parte da construção de tantos Messias que eu conheço, desconheço, reconheço...

    ResponderExcluir
  5. Poxa, que felicidade!!! Com o incentivo e recepção de vcs ganho força pra continuar escrevendo...
    Binha vc é minha inspiração noite e dia!
    Netinha, nossa convivência torna a vida para mim cada vez mais dinâmica, forte, pulsante, enérgica!
    Marcinha e Nelma, obrigado pelo estímulo, sinto-me agraciado em poder dialogar com vcs...
    Bjos a todas!

    ResponderExcluir
  6. Parabéns pelo blog companheiro Quanto à postagem... Nunca foi e nunca será novidade, que seus textos nos envolvem num colorido muito especial. Sinto-me honrado em ser seu companheiro de caminhda, e com isso, aprender, construir, destruir, reconstruir.
    Abração

    ResponderExcluir
  7. My God!
    Uma verdadeira aula em como se desapegar do dogmatismo cristão e antigo!
    UFA!
    Estou por aki para aprender...Uma coisa é certa, já não me sinto mais culpada por usufruir das coisas desta vida...Terão criado um monstro??ashuahsuahus'
    Abraço e sábias palavras!

    ResponderExcluir
  8. Gazo, valeu pela visita, sua parceria me deixa imensamente feliz. Sinto falta das suas intervenções em sala de aula... Abraços!

    Embora alguns possam ter tentado criar esquizofrênicos, o que felizmente vemos é a irrupção de humanos demasiado humanos...
    Carpe Diem Ana!!!

    ResponderExcluir
  9. Mê, como diz Rubem Alves, inventaram tanta coisa sobre Deus que ele não suportou e resolveu fugir, foi isso que os protestantes fizeram. Mas ainda bem que percebemos Deus nas coisas mais simples e mais livres do mundo. rssrsrs. Ler seus textos é maravilhoso! Estou te seguindo...
    bjs

    ResponderExcluir