sábado, 9 de outubro de 2010

Educação e mudança: o que nós professores temos a ver com isto?

A maioria dos docentes em exercício nas instituições de educação públicas e privadas, são egressos de universidades públicas, nas quais aparecem, como costumamos acreditar, o foco de resistência à despolitização da educação e ao adestramento dos estudantes, bem como são estas universidades os espaços de efervescência dos discursos sociais com ideais de transformação. Entretanto, os próprios movimentos docentes e discentes, assim como as posturas dos profissionais advindos destas instituições de ensino mostram a escassez de compromisso político e responsabilidade social na vivência da prática educativa. Deste modo, a reflexão sobre estas incoerências torna-se pauta fundamental na formação de novos professores.

A educação figura na Constituição Federal do país como direito de todos e dever do Estado e da família, cabendo ao primeiro criar e manter os meios adequados à garantia deste direito, em todos os níveis, para todos os brasileiros. Deste modo, assim como a saúde, previdência etc., a educação constitui-se um serviço público essencial e basilar para a constituição de uma sociedade democrática. O pleno gozo da cidadania e a inserção no mundo do trabalho são condições imprescindíveis para a consecução da autonomia dos indivíduos e o desenvolvimento do próprio país. Por isso, são estes os principais objetivos da educação, que em vista da sua responsabilidade para o desenvolvimento da cidadania, não pode ficar sujeita à ganância das instituições privadas, precisa corroborar-se como um serviço público gratuito e de qualidade, que cumpra seus propósitos.

A formação profissional dos educadores, oferecida pelas instituições de ensino superior, procura orientar-se pelos princípios acima mencionados. Entretanto, verificamos certa distância entre o conhecimento e os métodos educacionais vigentes na academia e a prática docente na educação básica. Em nossas visitas às escolas verificamos que muitos dos professores mais antigos na carreira ignoraram vários conhecimentos pedagógicos, preferindo manter as formas rotineiras já por eles consagradas. Os novos profissionais, por sua vez, não se mostram tão comprometidos com a coerência entre a sua formação e o seu trabalho de educador. Muitos destes utilizam-se da educação como “bico”, na expectativa de migrarem para outras carreiras mais rendosas.

O discurso da corrupção generalizada permeia diversos setores sociais brasileiros há séculos. Com o crescimento vigoroso do individualismo, este discurso ganha ainda mais espaço. A apropriação desta fala é uma legitimação da desobrigação de qualquer compromisso político. As pessoas buscam, sobretudo, alcançarem uma boa colocação econômica, e a educação serve-lhes tão somente como instrumento para este objetivo. Assim, as preocupações coletivas e com a vida política estão desacreditadas e marginalizadas. Em meio ao caos nos refugiamos na nossa “incapacidade” de ação e, assim, nos omitimos. Penso que a biografia e o lugar social do educador constituem-se em fatores significativos para a sua atuação engajada ou não. Pesquisadores têm se debruçando sobre perfis profissionais e trajetórias de vida de professores, buscando analisar os nexos que os articulam.

A formação conquistada numa universidade pública, patrocinada pelos impostos dos contribuintes, coloca diante de nós a responsabilidade de oferecer uma resposta à sociedade, contribuindo para formação de cidadãos, estimulando a consciência crítica, o pensamento livre e possibilitando aos estudantes condições de pleitearem colocações no mercado de trabalho que os permitam viver com dignidade. São estas as atribuições de um professor. Como um egresso de escola pública, oriundo de uma família desprovida de escolarização e de grandes perspectivas de mudança social, a formação educacional me possibilitou ascensão social e conseqüentemente também da minha família. Assim, acredito que como educador, não obstante todos os problemas da educação pública, posso contribuir para que filhos de famílias pobres como eu tenham acesso à cidadania, ao nível superior, bem como possibilitem melhores condições de vida às suas famílias e, sobretudo, posso também incentivá-los a se interessarem pelos destinos do país, participando como sujeitos políticos em suas localidades.

Um comentário:

  1. Messias, bendito texto!
    Gostei muito das suas colocações, principalmente a cerca do distanciamneto entre os ditos métodos educacionais que aprendemos na academia e a realidade escolar braisleira. Tudo que foi dito aí eu conheço de vivência e me entristeço ao ver que grandes são os discursos, mas pouca é a prática e mesmo o proeparo e a vontade de educar...É muito mais fácil e menos trabalhoso render-se ao sistema e nada fazer, apenas reproduzir...E é triste ver que hoje, professor considerado bom é quele que sabe "domar os alunos na sala de aula". Acho que o que falta aos educadores recém-saídos da Universidade, ou mesmo os que ainda estão nela, mas já atuam em sala de aula, é essa consciência de um retorno a sociedade, quem de fato, custeia nossos estudos.
    Texto brilhante. ATÉ.

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