terça-feira, 5 de outubro de 2010

PREGADOR: "O CANAL DA PALAVRA DE DEUS"

O pregador, enquanto mediador da mensagem divina, ocupa lugar fundamental na pregação. Ele é reconhecido pelos ouvintes como o “canal da Palavra de Deus”, aquele que entrega o “recado de Deus” para os fiéis. A ideologia do “Ungido de Deus” camufla o sujeito histórico, suas visões de mundo, seus preconceitos e seus interesses nem sempre divinos, desvinculando-o da mensagem pregada.

Os próprios pregadores se compreendem como mediadores especiais e legítimos da mais pura e verdadeira palavra de Deus. Jerry Stanley Key, famoso pastor batista e professor de homilética diz pretensiosamente: “A nós, filhos de Deus, cabe o glorioso privilégio de sermos porta-vozes da palavra que dá vida”.

Entre os católicos também não é diferente, Leonardo Boff denunciou em Igreja Carisma e Poder que a autoridade religiosa se considera como a principal, se não a exclusiva, portadora da revelação de Deus ao mundo, com a missão de proclamá-la, explaná-la, mantê-la sempre intacta e pura e defendê-la. Guardadas as diferenças entre os cristianismos protestante e católico, não vemos motivos para não associar esta postura das autoridades católicas às praticadas pelos líderes das tradições protestantes, como deixa ver a declaração do pastor Stanley Key.

Parece que o princípio do sacerdócio universal de todos os crentes, pressuposto basilar da reforma, segundo o qual todos os crentes estão capacitados para, auxiliados pelo Espírito Santo, lerem e interpretarem a Bíblia, anda bastante desbotado nas igrejas protestantes, que preferem revigorar discursos e atitudes sacerdotais.

Boff observa habilmente que “esta compreensão da revelação divina como comunicação de verdade carrega consigo imediatamente uma conseqüência grave para o problema dos direitos humanos: a intolerância e o dogmatismo. Quem é portador da verdade absoluta [...] não pode tolerar outra verdade”. Aqueles que pretendem possuir a verdade redundam em intransigência e absolutismo.

As intolerâncias em geral e, em particular a intolerância religiosa, já se exasperaram suficientemente para percebermos que não podemos mais ambicionar a propagação de uma verdade única.

Enquanto o pregador continuar falando de um lugar praticamente inalcançável aos crentes, como se ele se transformasse em um ser semi-divino quando sobe ao púlpito, não será possível o desenvolvimento de cristãos autônomos, capazes de dialogar criticamente com o sermão exposto.

As asneiras políticas que protestantes e católicos têm difundido através das redes sociais na internet mostraram, mais uma vez, a alienação religiosa e o espírito de rebanho que submete a grande massa de evangélicos do Brasil.

3 comentários:

  1. Messias... anteontem e ontem, num evento, sobre festas populares, ritos, de teorias a práticas do samba de roda, capoeira, dança afro um dos dilemas foi levantado: muitas pessoas estão se convertendo ao cristianismo evangélico. Antes eu pensaria, glória a Deus, o reino de Deus está expandido na terra, que é justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Mas, contrariamente a isto, é o que seu belissimo crítico texto apresenta, o evangélico infelizmente é conhecido mais pelos "não podes", inteolerância com o outro, mais especificamente com o negro, afro-descendente, 'culturas do "diabo"' como alguns afirmam, ou com mulheres para todo sempre submissas, passivas, inferiores, ou p com os pobres "Deus é todo poderoso, você está sem dinheiro? É pq não esta sendo fiel a Deus, dê seu td e vc verá..."
    Estas concepçoes imperialistas são, ao meu ver, problemáticas demais, o senso de ser dono da "única verdade", terrível. Quando iremos perceber que a paz, alegria, justiça não se faz somente em dogmas, mas em vivências, e cada "leitura é uma interpretação", cada cultura, experiência com o divino assim o é. Continuando sobre o evento, o samba de roda foi maravilhoso e o mesmo amigo que questionou a proliferaçao evangélica a sociedade e c ela, infelizmente, a noção de verdade e emparedamentos de culturas negras, comentou q provavelmente Jesus estaria dançando com as pessoas no samba de roda e não tentando "expurgar" os "demônios", da corporeidade que tambem é mental das nossas múltiplas identidades. Abraços amigo.

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  2. Bel, é um grande prazer e enriquecimento poder ouvir suas experiências e compartilhar da sua indignação com a atual situação dos evangélicos no Brasil. Mas, não podemos nos esquecer que o "Reino de Deus é como um grão de mostarda
    que um homem, pegando dele, semeou no seu campo; o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se aninham nos seus ramos."
    Vamos direcionar os nossos olhares aos pequenos sinais do Reino de Deus, pois estes sinais fortalecem a nossa esperança neste Reino que já é, e que ainda está por vir... A beleza das festas populares, das rodas de samba e da vida do povo simples, são, sem dúvida, sinais deste mundo de paz, alegria e justiça!
    Bjos

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  3. Amém Messias, como diz o filósofo Gonzaguinha, cada pessoa é a marca de outras tantas pessoas, e estes traços presentes nestas pessoas, q vivem na contrmão do individualismo e etnocentrismo q pretende ser universalizante, mas graças a Deus q barra em tais exemplos de vida. Prazer trocar ideias com vc, bjs.

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